Carinho ou invasão: você pode estar abusando do seu pet sem saber
Publicado em 15 de janeiro de 2024Tempo de leitura: 6min
Por Alexandre Rossi – Dr Pet
O tema de hoje são os limites do carinho que oferecemos aos nossos queridos pets. É comum os tutores cometerem pequenos abusos, acreditando, de coração, estarem sendo apenas afetuosos. Isso pode prejudicar o bem-estar dos pets e a nossa relação com eles.
Esse tema é delicado, porque ninguém quer acreditar que está fazendo mal ao próprio peludo, mas é essencial que a gente entenda como o carinho pode se transformar em invasão, e a linha tênue entre demonstrar amor e ultrapassar limites.
Os abusos mais comuns
Você ama abraçar seu pet, mas você já se perguntou se ele gosta de ser agarrado? Existem cães que amam abraços, mas outros não se sentem confortáveis e preferem carinhos menos intensos.
Você pode pensar “ah, mas é só um abraço, isso não vai fazer mal”, mas é importante entender que os pets não têm o mesmo raciocínio que o nosso. Uma pessoa que não gosta de abraço pode aceitar esse gesto de outra pessoa porque entende que é um carinho. Já um animal pode não entender dessa forma e se sentir simplesmente incomodado e acuado.
O simples ato de segurar a pata deles, algo que pode parecer inofensivo, costuma ser odiado pela maioria dos cães – daí a dificuldade que tantos têm de limpar as patinhas dos pets com lenço umedecido.
Outro exemplo: forçar o animal a socializar com visitas. Nem todo animal se sente confortável com pessoas “invadindo” o seu território ou com pessoas estranhas fazendo carinho. Ainda que socializar seja essencial para o bem-estar dos cães, não devemos forçá-los, mas sim, acostumá-los gradualmente com os estímulos, de preferência associando a coisas positivas, como petiscos.
Por que esses pequenos abusos acontecem
Aposto que você já matou a charada: tudo isso acontece por pura falta de conhecimento do comportamento canino e não de forma intencional!
A tendência de atribuir emoções humanas aos animais frequentemente leva os tutores a agir de maneiras que consideram carinhosas, mas que podem ser interpretadas de forma diferente pelos pets.
A inclinação para imaginar nossos pets como equivalentes a bebês humanos também contribui para esses pequenos abusos. Associamos naturalmente a ideia de carinho a gestos que consideramos amorosos em contextos humanos, como abraçar, segurar na mão e forçar a socialização. Entretanto, esquecemos que os pets têm suas próprias formas de expressar afeto e preferências únicas.
Paralelo entre crianças e pets
Ao abordarmos a questão de interações, surge frequentemente a comparação com bebês, com quem a maioria das pessoas sente-se à vontade para interagir desde o primeiro momento. “Falar” com um bebê é algo comum e, em muitos casos, eles respondem com sorrisos e risadas.
Mas é importante entender que cães têm características e necessidades distintas. Ao contrário dos bebês, os cachorros podem não expressar prontamente se estão à vontade com interações físicas. Além disso, em nenhum momento eles deixam de ser cães, ou seja, eles não ganham consciência completa de como funcionam as interações humanas.
Se um cão não está familiarizado com alguém, introduções e interações devem ser feitas de maneira gradual. Isso permite que o animal se acostume com a presença e ações da pessoa, construindo confiança ao seu próprio ritmo. Assim como em qualquer relacionamento, a paciência é uma virtude quando se trata de conquistar a confiança de um pet.
Como evitar esses abusos
O primeiro passo para evitar abusos é reconhecer e aceitar as diferenças individuais entre os pets. Cada animal tem sua própria personalidade, preferências e limitações. Ao investir tempo em observação e interação, podemos identificar o que cada pet aprecia, construindo uma relação mais respeitosa.
Outra dica é sempre buscar conhecimento sobre comportamento animal e as necessidades específicas de cada espécie. Estamos falando de cães, mas isso serve para todos os animais domésticos. Conhecer os sinais de desconforto (como corpo tensionado, rabo baixo, orelhas para trás pelos arrepiados), aprender sobre linguagem corporal e entender as particularidades da raça do seu pet é essencial para prevenir abusos involuntários.
Nem todos os pets apreciam as mesmas formas de carinho. Se um pet demonstra desconforto em relação a abraços, por exemplo, podemos buscar outras maneiras de expressar afeto, como oferecer petiscos, fazer comandos, brincar com ele ou simplesmente esperar que ele se aproxime para oferecer um carinho suave.
Ou seja, a comunicação clara é a chave para evitar abusos. Ao aprender a linguagem corporal do nosso pet e responder aos seus sinais, criamos uma comunicação mais eficaz.
Evitando abusos por outras pessoas
Proteger nossos pets de possíveis abusos por outras pessoas também faz parte da nossa responsabilidade como bons tutores, pois nem todos compreendem as sutilezas das interações com animais.
Temos o papel de defender os limites de nossos pets quando necessário. Isso inclui intervir gentilmente quando percebemos que alguém está ultrapassando os limites estabelecidos. Expressar de forma clara e calma que o pet precisa de espaço ou que determinada abordagem não é bem recebida é essencial.
Ao apresentar nossos pets a outras pessoas, especialmente crianças, é recomendável supervisionar as interações e comunicar preferências e limites do animal. Isso inclui informações sobre gestos que o animal aprecia, como ser acariciado, e aqueles que podem causar desconforto.
Nem todos conseguem identificar os sinais de desconforto em um pet. Educar amigos e familiares sobre os sinais de estresse, como orelhas para trás, evitar contato visual ou rosnar, ajuda a garantir que as interações sejam respeitosas. Essa conscientização pode prevenir situações que poderiam levar a abusos involuntários.
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Alexandre Rossi, conhecido como Dr Pet, é especialista em comportamento animal, zootecnista e médico-veterinário. Junto de seus pets, Estopinha (in memoriam), Barthô e a gatinha Miah, ele é a maior referência no assunto do Brasil, divulgando seu conhecimento em estudos científicos, cursos on-line, programas de TV e redes sociais.
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