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Por que seu cão come tanto e o que fazer para diminuir o problema

Por Alexandre Rossi – Dr Pet

Cachorro gordo e guloso. O que para muita gente é sinônimo de fofura, para os veterinários é indício de que algo não está bem na saúde ou no comportamento do animal. O excesso de apetite nos cães nem sempre significa fome e, sem saberem disso, muitos tutores estimulam um hábito que pode se tornar prejudicial ao bem-estar do cachorro – além da chance de virar uma compulsão.

Existem duas razões principais que levam o cachorro a comer excessivamente: quando ele tem uma doença que o faz sentir mais fome (como ocorre no caso da diabetes mellitus e do hiperadrenocorticismo, o excesso de cortisona no organismo), ou por estímulos externos, que podem ser problemas comportamentais como ansiedade, estresse ou ócio ou, sinto dizer, desenvolvidos por atitudes do próprio tutor.

GULODICE X COMPULSÃO
Tanto a gula como a compulsão se caracterizam pelo ato de comer sem estar com fome. O que diferencia uma da outra é que a compulsão (chamada de polifagia na medicina veterinária) é quando o animal se alimenta demais durante vários dias seguidos e nada o distrai da comida, ou melhor, do ato (e hábito) de comer muito. Nesse caso, o problema é muito mais sério que a gulodice, e deve ser tratado com especialistas.

Vale destacar que a ciência vem provocando que existem cães que são mais gulosos por natureza – e é aí que mora o perigo, pois eles podem desenvolver a compulsão se não forem freados. É preciso ter cuidado com as raças “glutonas” e predispostas à obesidade, como Labrador, Beagle e Cocker.

Por isso, são importantes os hábitos corretos na alimentação, para que o tutor não estimule o animal a comer além do necessário e nem a desenvolver problemas comportamentais que possam ser descontados no alimento. Parece óbvio, mas não custa ressaltar: um cachorro que come desenfreadamente, seja por pura gula ou compulsão, irá ganhar cada vez mais peso e, consequentemente, acabará se tornando obeso.

A obesidade, que consiste no excesso de gordura corporal, traz muitos malefícios ao cão, podendo afetar a respiração, articulações e metabolismo, além de reduzir bastante a expectativa de vida.

OS TUTORES TAMBÉM ERRAM
Quando você está comendo alguma coisa, o seu cachorro fica te olhando com aquela cara de “pidão”? Daí, claro, bate aquela dor no peito e você acaba dando um pedaço para ele… Alguns podem pensar que isso não faz mal, mas é em momentos como esse que o tutor cria hábitos errados no cão, o que pode desencadear a compulsão e os quilos extras. Os tutores exercem controle completo sobre a alimentação dos seus bichos e são suas crenças e percepções sobre este manejo e o cuidado com seus animais que irão influenciar diretamente o consumo alimentar deles.

Um dos principais erros é deixar o pote de ração sempre cheio. Então, é preciso tomar cuidado com a quantidade de comida ofertada e, principalmente, com os petiscos. Eles fornecem calorias extras e não devem ser dados aos cachorros em abundância, nem várias vezes durante o dia. Além disso, não são alimentos completos: mesmo aqueles feitos a partir de ingredientes naturais, não possuem todos os nutrientes que o cão requer diariamente.

Por isso, só devem ser oferecidos como recompensa ao pet pelo bom comportamento, durante um treino prático, dentro de brinquedos educativos ou quando ele aprender hábitos como fazer xixi no lugar certo, por exemplo. Assim, ele associa truques e postura correta com esse prêmio.

Outro problema: se o animal come petiscos toda hora apenas por gulodice, o agrado irá perder o valor, tornando-se difícil ensinar o animal. Oferecer snacks apenas para agradar e estimular o hábito de pedir comida na hora das refeições são outros fatores que podem levar cães e gatos à obesidade.

IDENTIFICANDO O PROBLEMA
O motivo do problema também pode estar no próprio animal, relacionado às suas emoções. Cães que não recebem estímulos durante a maior parte do dia podem acabar descontando essa falta do que fazer na comida. O mesmo acontece com os pets estressados.

Mas vale lembrar que, apesar de o comportamento influenciar, esse cão só irá comer mais que o normal se o alimento estiver disponível para ele, ou seja, a responsabilidade é do tutor!

Já os transtornos comportamentais propriamente ditos (como a compulsão) podem se manifestar mesmo nos cachorros que possuem uma rotina alimentar definida, o que facilita na hora de identificar. No caso, o pet poderá comer mais rapidamente, menos ou até mesmo dispensar a ração.

Para saber se algo está errado na dieta do pet, é fundamental que o tutor conheça os hábitos alimentares do seu cão. Da mesma forma que os humanos, cada animal possui modos e preferências particulares quando o assunto é comida.

Geralmente, os tutores que deixam o alimento sempre à disposição do cão não sabem exatamente quanto o pet come por dia. Nesse caso, o primeiro passo é criar uma rotina de alimentação para estimular o bem-estar do cão, pois, além de evitar a obesidade e os transtornos alimentares, o tutor terá consciência da alimentação do peludo. E, caso ele não esteja comendo no horário certo em que é colocada a ração, o tutor já vai perceber que tem algo de estranho com ele.

Observar características físicas no corpo do cachorro é outra forma de identificar possíveis exageros nos hábitos alimentares do guloso. Eu recomendo usar o chamado “escore de massa corporal”, que é uma forma de avaliar visual e tatilmente se o cão está abaixo, no peso ideal ou acima do peso.

Também é possível notar alterações na pelagem ou fezes. Se eles estiverem saudáveis e comendo um alimento de boa qualidade em quantidade adequada, os pelos estarão brilhantes e em cobertura uniforme. Também produzirão fezes não muito volumosas e bem formadas, que não sujam ou sujam muito pouco o chão.

ROTINA ALIMENTAR
É necessário determinar hora certa para o cachorro comer. Além disso, oferecer mais de uma porção no dia em determinados horários ajuda a deixar os cães menos ansiosos pela comida. Assim, ele saberá que tem hora para se alimentar e também que existe uma quantidade correta.

E não se preocupe caso o seu cachorro já seja adulto e ainda não tenha uma rotina alimentar definida, pois ele também pode aprender. Cães se condicionam facilmente. Se você for categórico nos horários de colocar comida, em pouco tempo ele se acostumará.

As informações contidas nos rótulos de rações podem servir como base para determinar o tamanho da porção, que você deve dividir em quantias menores ao longo do dia. Porém, o seu veterinário, que, além das características da raça e da espécie, conhece os hábitos particulares do seu cachorro, pode determinar melhor a quantidade de alimento e quantas vezes ao dia ele deve ser fornecido.

Já em caso de dietas de alimentação natural, é ainda mais imprescindível buscar a ajuda de um especialista, como um zootecnista ou veterinário nutrólogo.

BONS HÁBITOS
Além da rotina alimentar e do corte de petiscos e dos alimentos fora de hora, o cachorro precisa de estímulos não só para se exercitar, mas também para não adquirir hábitos indesejáveis que possam desencadear os problemas alimentares. Atividades físicas regulares são importantes para ocupar a rotina do cão. O ideal é que o tutor veja de que tipo de exercício ou brincadeira seu cachorro gosta mais.
Para os tutores que não possuem muito tempo para treinar comandos, o passeio diário evita o sedentarismo e o sobrepeso. E depois que o cachorro aprimorar o seu condicionamento físico, você poderá iniciar alguns trotes (pequenas corridas) até conseguir uma corrida constante. Inscrever o pet em uma escola de agility também é uma ótima ideia.

TREINOS QUE AJUDAM

  1. Ensine-o a se controlar: Os comandos básicos “senta” e “fica” são os primeiros que devem ser ensinados, com o auxílio de petiscos. Isso porque, além do autocontrole que os pets vão adquirir, eles também são úteis para a hora em que o cão atacar a comida.
  1. Autorização para comer: depois de ensinar o animal a se controlar, utilize o truque de forma que o pet só possa ir até o pote de comida quando for autorizado. Para conseguir educar o peludo nesse aspecto, é preciso paciência e repetições.
  1. Sem ansiedade: enriquecer o ambiente com itens que tirem a ansiedade do animal ajuda no problema. Outra dica é usar brinquedos em que é possível inserir ração ou petisco. Nesse caso, o snack é válido, pois faz parte do treino e o pet precisa se exercitar para conseguir, o que não o incentiva a comer demais.

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Alexandre Rossi, conhecido como Dr Pet, é especialista em comportamento animal, zootecnista e médico-veterinário. Junto de seus pets, Estopinha (in memoriam), Barthô e a gatinha Miah, ele é a maior referência no assunto do Brasil, divulgando seu conhecimento em estudos científicos, cursos on-line, programas de TV e redes sociais.

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