Ponto de vista do cachorro X Ponto de vista do tutor

Por Alexandre Rossi – Dr Pet

É comum ouvir alguém dizendo “meu cachorro entende tudo que eu falo, ele me desobedece de pirraça”. E eu entendo essa crença, porque os cães estão cada vez mais próximos da gente, e a comunicação com eles evolui cada dia mais. Mas, nem sempre o seu cachorro entende o que você quer dizer. E isso pode gerar muitos problemas no relacionamento.

Com as redes sociais tão em alta, os pets não poderiam ficar de fora e estão em muitas trends que mostram o seu comportamento. Infelizmente, muitos tutores não fazem ideia do que realmente estão filmando. Por isso, nesta coluna, vou falar um pouco sobre a comunicação entre humanos e cães e entender os diferentes pontos de vista.

Cachorro entende a gente?

Vamos começar pela pergunta que muitos tutores já me fizeram: “Cachorro entende a gente, ou seja, entende português?” A resposta é mais complexa do que parece. Os cães, de fato, têm habilidades surpreendentes de compreensão, mas essa compreensão não se assemelha à nossa interpretação de linguagem.

Os cães não entendem palavras da mesma forma que os humanos, mas podem associar comandos específicos a ações ou objetos. Por exemplo, um cão pode aprender que a palavra “sentar” significa que ele deve dobrar as patas de trás e encostar o bumbum no chão, não porque entende o conceito de “sentar”, mas porque reconhece o som da palavra e a ação correspondente que deve realizar.

Isso significa que os cães não compreendem a língua da mesma forma que compreendemos uns aos outros. Eles não têm um vocabulário como o nosso, mas podem responder a palavras específicas que foram ensinadas a eles.

Entretanto, a comunicação entre humanos e cães vai além das palavras. Os cães são mestres em captar pistas visuais e auditivas, além de prestar muita atenção à linguagem corporal e ao tom de voz dos tutores. Eles podem entender nossa emoção por meio de nossa entonação vocal e reagir de acordo. Por exemplo, um cão pode perceber quando estamos felizes, tristes, zangados ou animados com base em como falamos com ele.

Falhas na comunicação

Muitos tutores acreditam que seus cães entendem cada palavra que dizem, mas a realidade da comunicação entre humanos e cães é mais complicada do que parece. Existem várias razões pelas quais essa comunicação pode falhar, e entender essas falhas é fundamental para construir um relacionamento melhor com seu pet.

Vou dar dois exemplos práticos:

• Tutor que dá bronca “conversando”: é comum as pessoas dizerem coisas como “papai não gosta que você faça isso” e acharem que estão sendo claras, mas o que o cão realmente entende é a atenção que está recebendo. Essa bronca pode ser interpretada como uma forma de interação e até mesmo uma recompensa. Ou seja, em vez de corrigir o comportamento, você pode estar o reforçando.

• Chamando o pet no parque: outro cenário comum é quando você chama seu cão no parque, e ele ignora você. Quando finalmente consegue alcançá-lo, você fica bravo e repreende. Você pode pensar que está sendo eficiente com essa bronca e que na próxima vez ele vai te obedecer, mas, na verdade, ele entende que quando ele obedece, é punido com uma bronca e ainda perde a diversão do parque. A confusão gerada por essa situação pode tornar o treinamento mais difícil.

• Bronca ao encontrar um xixi errado: suponha que seu cão faça xixi no tapete do banheiro, e você o repreende depois de encontrar a bagunça. No entanto, seu cão pode não entender por que está sendo repreendido se já associou o banheiro a um local onde fazer suas necessidades é aceitável. Isso pode resultar em um cão que começa a se esconder para fazer xixi, tornando ainda mais difícil para você treiná-lo adequadamente.

Impacto das Falhas na Comunicação

Essas falhas na comunicação podem levar a problemas comportamentais e frustrações tanto para o tutor quanto para o cão. É importante lembrar que os cães veem o mundo de maneira diferente de nós e não têm a mesma compreensão complexa da linguagem. Portanto, culpar o cão por esses mal-entendidos não é justo nem eficaz.

Em vez disso, os tutores podem se beneficiar ao aprender mais sobre os comportamentos mais comuns dos cães, sua linguagem corporal, os sinais de estresse e as pistas que os cães dão em resposta às nossas ações. Com paciência, treinamento e compreensão das necessidades do seu pet, é possível melhorar significativamente a comunicação com ele, fortalecendo o relacionamento e evitando frustrações desnecessárias.

Exemplos surpreendentes de comunicação canina

Para quem me acompanha nas redes sociais, já deve ter visto minha querida Estopinha sendo extremamente comunicativa. Ela era realmente uma cachorrinha incrível! Ela obedecia alguns comandos em japonês e inglês, além de vários em portuguêes. Além disso, ela usava a pata para dizer “sim”, cavava ou virava a cara para dizer “não” e mordia o ar para pedir comida. Tudo isso foi resultado de várias associações e muito tempo!

Comece a comunicação desde cedo!

Para alcançar um nível mais profundo de comunicação com seu pet, como a que eu tinha com a Estopinha, é importante treiná-lo desde filhote. Separei algumas dicas:

• Ensinar comandos básicos, como “senta”, “deita”, “dar a patinha” e “vem”
• Ensinar comandos de autocontrole, como “não” e “fica”
• Caso possível, ensinar comandos mais avançados como “cumprimenta”, “rola” e “passa entre as pernas”

• Estabelecer regras e limites claros
• Oferecer vários tipos de brinquedos para descobrir a preferência do seu pet
• Oferecer enriquecimento ambiental com desafios
• Recompensar bons comportamentos, de preferência com comida
• Observar os comportamentos do seu cão para entendê-lo melhor

Lembre-se de que a paciência, o amor e o conhecimento são essenciais na comunicação com seu cão. À medida que vocês se entenderem melhor, vão construir um vínculo mais forte e ter uma relação mais harmoniosa.

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Alexandre Rossi, conhecido como Dr Pet, é especialista em comportamento animal, zootecnista e médico-veterinário. Junto de seus pets, Estopinha (in memoriam), Barthô e a gatinha Miah, ele é a maior referência no assunto do Brasil, divulgando seu conhecimento em estudos científicos, cursos on-line, programas de TV e redes sociais.