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Humanização de pets: é possível encontrar um equilíbrio?

Por Alexandre Rossi – Dr Pet

Você já ouviu falar de humanização? Ou seja, atribuir características e necessidades humanas aos animais, resultando em tratá-los como gente. Esse fenômeno tem evoluído muito nas últimas décadas, o que já era de se esperar, já que os animais são cada vez mais parte das nossas famílias.

Agora você que está lendo deve estar pensando “lá vai ele falar mal disso, mas meu pet é meu bebê, sim”, mas calma! Na verdade, hoje eu quero explicar um pouco sobre a humanização, o efeito dela nos animais e como a gente pode achar um equilíbrio. Sim! Eu acredito que é possível “mimar” os pets sem prejudicar o bem-estar deles.

Por que os tutores têm tanta necessidade de humanizar os pets?
Pra responder isso, precisamos voltar no tempo. Nos primórdios da humanidade, nossa existência era moldada pelos instintos de sobrevivência, o que acarretou na formação de pequenas tribos, em que todo mundo cuidava de todo mundo e a caça e a coleta eram fundamentais.

Voltando aos dias de hoje, grande parte das pessoas vive em cidades grandes e aceleradas, em lares sem filhos. Mas ainda que tenha acontecido uma transição de estilo de vida, os instintos de sobrevivência seguem fortes na gente, principalmente os de cuidar da própria família.

Entenderam onde eu estou querendo chegar? Os instintos de seres humanos, originalmente direcionados à sobrevivência da própria genética, hoje em dia, podem acabar direcionados ao cuidado dos pets, de forma que eles passam a ser vistos quase como humanos e não mais animais.

A humanização dos pets costuma aparecer mais no caso de tutores sem filhos ou com filhos crescidos que já saíram de casa, pois a ausência de crianças pode levá-los a projetar instintos parentais nos animais para preencher.

A humanização faz mal para os pets?
Ao contrário do que muita gente acredita, essa interação pode beneficiar tanto os tutores como os animais, pois um tutor que considera o seu pet como membro da família, tende a cuidar melhor dele. O problema é quando acontece um exagero, e as necessidades do animal são ignoradas, comprometendo seu bem-estar.

Vou dar alguns exemplos: como passear com um pet adulto sem problema de locomoção em um carrinho de bebê; impedir o convívio com outros animais e pessoas; vestir excessivamente o animal ou evitar o contato com a natureza. Tudo isso pode interferir nos instintos naturais dos pets e afetar a sua qualidade de vida.

Encontrando um ponto de equilíbrio
Depois de mais de 30 anos trabalhando com comportamento animal, eu cheguei à conclusão que a chave para uma humanização “equilibrada” é ter a humildade de reconhecer que, apesar de nossos instintos humanos, os pets são animais com necessidades e instintos próprios. Ou seja, apesar do seu cachorro ser o seu filho, ele continua sendo um cachorro, ele é de outra espécie!

Isso significa que seu pet não vai mais poder subir na sua cama? Não! Não existe nada que aponte que isso prejudica o bem-estar dos animais, pelo contrário. Mas se você impede ele de passear ou ter contato com a natureza porque depois ele vai subir na sua casa, isso sim pode ser um problema. E aí, o que fazer? Ir pelo caminho do meio: o pet passeia, mas também precisa deixar você limpar as patinhas dele sempre que voltarem pra casa.

Outro exemplo de humanização é a necessidade de dar alimentos gostosos para os pets. Quem nunca deu um pedacinho de pão no café da manhã que atire a primeira pedra, não é?! Mas essa prática pode ser perigosa, desbalancear a dieta deles e deixá-los acima do peso.

Então, uma alternativa mais saudável para é o que chamam de “mix feeding”, que é ofertar alimentos secos e alimentos úmidos em momentos diferentes do dia, ambos nutricionalmente adequados e com acompanhamento do veterinário.

Compreendendo as necessidades dos pets
Todo mundo quer ser o melhor tutor do mundo, e eu me incluo nessa. Mas é importante entender que isso envolve muito mais do que dar amor, abrigo e comida. Para ser um bom tutor de um cão, você precisa conhecer ao menos um pouco sobre o comportamento canino. Para isso, existem diversos canais que podem ajudar muito, como o próprio blog da Petz ou minhas redes sociais.

Outra coisa importante é conhecer o seu próprio animal e sempre observá-lo para identificar sinais de desconforto ou mal-estar.

Por fim, eu recomendo a todos que se dediquem a ensinar comandos básicos de obediência e limite aos pets, que são a melhor ferramenta de comunicação que temos com eles. Esse cuidado, por si só, vai melhorar muito a relação entre vocês e permitir um melhor entendimento das necessidades do animal.

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Alexandre Rossi, conhecido como Dr Pet, é especialista em comportamento animal, zootecnista e médico-veterinário. Junto de seus pets, Estopinha (in memoriam), Barthô e a gatinha Miah, ele é a maior referência no assunto do Brasil, divulgando seu conhecimento em estudos científicos, cursos on-line, programas de TV e redes sociais.

marianapucci@gearseo.com.br

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