Por Alexandre Rossi – Dr Pet
É comum vermos notícias de cães sendo retirados sem vida ou extremamente debilitados após serem deixados dentro de veículos por seus tutores.
Esses incidentes ocorrem com frequência em todo o mundo, gerando revolta e levantando questões sobre os cuidados com os cães quando deixados em locais que ameaçam sua integridade física. Por isso, quis trazer essa discussão aqui pra coluna e explorar os riscos e as precauções necessárias para garantir o bem-estar dos pets.
O verdadeiro perigo
O maior perigo quando se trata de deixar um cão dentro de um carro é o superaquecimento. Esse problema ocorre quando um animal é exposto a temperaturas excessivamente altas por um período prolongado. Portanto, deixar um cão sozinho em um carro quente, mesmo com as janelas ligeiramente abertas e por apenas alguns minutos, pode ser fatal.
De acordo com especialistas, em um dia com temperatura de 25ºC, um carro pode alcançar facilmente entre 37 e 39 graus Celsius em questão de minutos, transformando-o em uma armadilha para todos.
Um estudo de 2018 realizado pela Universidade do Estado do Arizona aponta os perigos de permanecer trancado dentro de um carro em um dia quente. O estudo tinha como objetivo mostrar quanto tempo leva para uma criança sofrer lesões por calor ou até mesmo morrer de hipotermia em tal situação. Os resultados demonstraram que o painel de um veículo estacionado ao sol em um dia quente pode atingir até 70°C em apenas uma hora.
E os cães?
Quando se trata de cães, o risco é igualmente alarmante. Mesmo em dias com um pouco de sol, deixar um cão no interior de um carro, mesmo com uma janela levemente aberta, não é suficiente para impedir o superaquecimento.
A falta de ventilação adequada também leva ao aumento rápido da temperatura corporal do animal. Isso pode resultar em vômitos, salivação excessiva, respiração ofegante, mucosas vermelhas escuras, tremores musculares, diarreia, falta de coordenação motora e até perda de consciência, convulsões e morte.
Em condições climáticas severas, esses sintomas podem surgir em questão de minutos. Quando a temperatura corporal atinge cerca de 41°C (contra a variação normal de 38°C a 39°C), os órgãos podem entrar em colapso devido à hipertermia.
Além disso, os cães não têm o mesmo sistema de resfriamento eficiente que os humanos têm por meio do suor. Enquanto os seres humanos podem suar para dissipar o calor, os cães resfriam-se principalmente pela língua, ofegando.
Animais de focinho curto são ainda mais vulneráveis
A capacidade de regular a temperatura corporal é vital para todos os cães, mas os braquicefálicos enfrentam um desafio adicional. Como eles têm focinhos curtos e achatados, isso resulta em uma cavidade nasal menor e vias aéreas mais estreitas, criando desafios significativos para a respiração e regulação da temperatura. Por isso, eles são mais vulneráveis ao superaquecimento.
Isso acontece porque as narinas desses animais são frequentemente estreitas e os canais nasais curtos. Além disso, o palato mole (parte posterior do céu da boca) pode ser excessivamente longo, estreitando ainda mais as vias aéreas. Essas características comprometem a capacidade de fluxo de ar, tornando a respiração mais difícil, especialmente em situações de estresse, exercício ou calor.
Em ambientes quentes, sua incapacidade de trocar calor adequadamente coloca-os em grande risco de superaquecimento, que pode ter consequências graves e até fatais.
A Legislação e a responsabilidade dos tutores
Aqui no Brasil, a legislação em relação a deixar animais trancados em carros varia de cidade para cidade, mas, em geral, tutores que deixam seus pets em situações de perigo podem ser enquadrados em casos de crueldade animal.
O Artigo 32 da Lei 9.605/1998 brasileira estabelece pena de detenção e multa para quem praticar atos de abuso, maus-tratos, ferir ou mutilar animais. Isso inclui mantê-los em ambientes que impeçam a respiração ou os privem de ar e luz.
Precauções e alternativas responsáveis
Caso você realmente precise deixar seu cão no carro por um curto período, existem algumas formas mais seguras de fazer isso. Separei algumas dicas abaixo:
Lembrando que para que isso seja possível, seu pet deve adorar ficar no carro e se sentir confortável na sua ausência.
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Alexandre Rossi, conhecido como Dr Pet, é especialista em comportamento animal, zootecnista e médico-veterinário. Junto de seus pets, Estopinha, Barthô e a gatinha Miah, ele é a maior referência no assunto do Brasil, divulgando seu conhecimento em estudos científicos, cursos on-line, programas de TV e redes sociais.
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